terça-feira, 20 de março de 2018

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

COMEÇOU A PRIMAVERA

O fim-de-semana lá se foi entre leituras e um corte de cabelo, o meu ou, para ser mais preciso, o que me resta dele. 
Mas tivemos uma folga artística, com o sarau de patinagem da escola da Matilde, na noite de sexta e hoje à tarde com a Aida, de Verdi, no Coliseu, pela Ópera da cidade búlgara de Varna. 
O repouso da família feito de alimento para o espírito e pernas esticadas para o físico. 

E o último álbum dos King Crimson no ar, fresco e alegre, mas com os sons encantados de sempre. 

Tal como os pianos da Aida, tão doces e claros que nos faziam fechar os olhos como se quiséssemos levitar. 



Foi a primeira vez que as miúdas viram um espectáculo de ópera. 
“-Estás a gostar, Matilde?” 
“-Sim. Isto parece-se com a história do Asterix.” (1)


É claro que não temos a pretensão que elas apreciem o que viram. Seria um disparate, as miúdas sequer têm vida suficiente para terem uma grande cultura musical. Mas podem ganhar hábitos e isso faz-se com a presença em sessões como esta e pela experiência de ouvir música em casa e é precisamente por esta razão que no carro procuro sintonizar mais tempo os postos relacionados com a chamada música erudita. É que elas já revelam os seus próprios gostos e têm os seus próprios cds que escutam regularmente; a Margarida, por exemplo, faz os trabalhos de casa com fundo sonoro. Daí que procuremos criar equilíbrios e as levemos a ver as mais variadas expressões desta forma de arte. 

São os capítulos da sua educação com que nós, enquanto pais, nos teremos que preocupar. 



Pois é, agora o primeiro-ministro vem dizer-nos que há sinais de retoma para dois mil e cinco. 
Disse o mesmo no ano passado relativamente a este ano. 



Já quanto à noite de sexta deve dizer-se que a mesma foi o corolário destes meses de aprendizagem que, na maior parte dos casos, deixou os miúdos a conseguirem equilibrar-se sobre os patins. 
Parece que o Tomás foi certeiro ao dizer que a actividade acabou quando os miúdos começavam a gostar. 
Mas pode ser que continuem para o próximo ano e depois há a alternativa dos clubes que, no concelho da Moita, não sei se não será a “Vélhinha” a única colectividade a oferecer a prática daquela modalidade. 

Seja como for, estas iniciativas do poder autárquico são positivas e podem muito bem ser melhoradas.

Mas eu acho que tenho de escrever sobre outras preocupações ainda mais importantes como, por exemplo, aquilo que se possa fazer para melhorar as condições das escolas do concelho e de atrair um corpo docente de efectivos empenhados e competentes, como já acontece no estabelecimento de ensino que as minhas queridas filhas frequentam. 



E os pais cheios de orgulho, com a felicidade estampada no rosto, são tão inocentemente patetas ao admirarem-se com as habilidades do pardalito que, bem vistas as coisas, nada têm de estranho. 

Temos dois encantos de filhas. 

E a Matoldas sempre bem disposta, aprende com uma facilidade desconcertante e concentra-se e atenta naquilo que tem para fazer, procurando o melhor desempenho possível e lá deslizava ela, sobre as quatro rodinhas, executando os movimentos com precisão e de acordo com os gestos do Professor. 

Bem e não me posso esquecer de registar que, a pedido da Margarida, levámos connosco o Ricardo G., o parceiro da minha filha mais velha. 

Ser pai também é isto, ir conhecendo e convivendo com os amigos dos filhos. 
É uma forma de mantermos a privacidade. 



Por cá, na sexta-feira, a esquerda manifestou-se pela paz; passou um ano sobre o início da segunda guerra do golfo que levou ao derrube do regime de Saddam Hussein e à ocupação do Iraque. 

A palhaçada já chegou ao ponto de aparecerem manifestantes mascarados de bombistas suicidas, mas a verdade é que Mário Soares deu o mote quando defendeu negociações com os terroristas. 

E esta gente não vê – não quer ver – que sem a afirmação do estado de direito nos países do Médio Oriente, precisamente o contrário do que pretendem os terroristas, jamais se conseguirá deixar de alimentar o fanatismo que dá a carne ao transporte das bombas que conferem a voz a esse terrorismo. 
E também não vê – não quer ver – que a guerra que o mesmo nos declara é de morte e global. Há tchetchenos no Afeganistão, ao lado dos talibans, tal como há membros da Al-Qaeda a combater no Iraque. 

E o recente reacender dos conflitos no Kosovo aí está para nos mostrar. 



Esperam-nos tempos de chumbo. 


Alhos Vedros 
  21/03/2004 


NOTA 

(1) Referência ao filme, Asterix e Cleópatra.

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