quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Um consumo reduzido de produtos de origem animal é necessário para salvar o mundo


por Margarida Castro


Um consumo reduzido de produtos de origem animal é necessário para salvar o mundo dos piores impactos das mudanças climáticas, diz relatório da ONU.
Uma mudança global para uma dieta vegana é vital para salvar o mundo da fome, da escassez de combustíveis e dos piores impactos das mudanças climáticas, afirmou hoje um relatório da ONU. Na medida em que a população mundial avança para o número previsível de 9,1 biliões de pessoas em 2050 e o apetite por carne e laticínios ocidental é insustentável, diz o relatório do painel internacional de gerenciamento de recursos sustentáveis do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).
Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmente devido ao crescimento da população e do consumo de produtos de origem animal. Ao contrário do que ocorre com os combustíveis fósseis, é difícil procurar por alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial nos impactos somente seria possível com uma mudança substancial na alimentação, eliminando produtos de origem animal”.
O professor Edgar Hertwich, principal autor do relatório, disse: “Produtos de origem animal causam mais danos do que produzir minerais de construção como areia e cimento, plásticos e metais. A biomassa e plantações para alimentar animais causam tanto dano quanto queimar combustíveis fósseis”.
A recomendação segue o conselho de Lorde Nicholas Stern, ex-conselheiro do governo trabalhista inglês sobre a economia das mudanças climáticas. O Dr. Rajendra Pachauri, diretor do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), também fez um apelo para que as pessoas observem um dia sem carne por semana para reduzir emissões de carbono.
O painel de especialistas categorizou produtos, recursos e atividades econômicas e de transporte de acordo com seus impactos ambientais. A agricultura se equiparou com o consumo de combustível fóssil porque ambos crescem rapidamente com  o desenvolvimento econômico, eles disseram.
Ernst von Weizsaecker, um dos cientistas especializados em meio ambiente que coordenaram o painel, disse: “A crescente riqueza econômica está levando a um maior consumo de carne e laticínios – os rebanhos agora consomem boa parte das colheitas do mundo e, por inferência, uma grande quantidade de água doce, fertilizantes e pesticidas”.
Tanto a energia quanto a agricultura precisam ser “dissociadas” do crescimento económico, porque os impactos ambientais aumentam grosso modo 80% quando a renda dobra, afirma o relatório.
Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo da UNEP,afirmou: “Separar o crescimento dos danos ambientais é o desafio número um de todos os governos de um mundo em que o número de pessoas cresce exponencialmente, aumentando a demanda consumista e persistindo o desafio de aliviar a miséria e a pobreza”.
O painel, que fez uso de diversos estudos incluindo o Millennium Ecosystem Assessment (avaliação do ecossistema no milénio), cita os seguintes itens de pressão ambiental como prioridade para os governos do mundo: mudanças climáticas, mudanças de habitats, uso com desperdício de nitrogénio e fósforo em fertilizantes, exploração excessiva dos oceanos e rios por meio da pesca, exploração de florestas e outros recursos, espécies invasoras, fontes  não seguras de água potável e falta de saneamento básico, exposição ao chumbo, poluição do ar urbano e contaminação por outros metais pesados.
A agricultura, particularmente a carne e os laticínios, é responsável pelo consumo de 70% de água fresca do planeta, 38% do uso da terra e 19% da emissão de gases de efeito estufa, diz o relatório, que foi liberado para coincidir com o dia Mundial do Meio Ambiente.
No ano passado, a Organização de Alimentos e Agricultura da ONU (FAO) disse que a produção de alimentos teria de aumentar em 70% para suprir as demandas em 2050. O painel afirmou que os avanços na agricultura serão ultrapassados pelo crescimento populacional.
O professor Hertwich, que é também diretor de um programa de ecologia industrial na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, disse que os países em desenvolvimento, onde se dará grande parte do crescimento populacional, não devem seguir os padrões de consumo ocidentais: “Os países em desenvolvimento não devem seguir nossos modelos. Mas cabe a nós desenvolver tecnologias em, digamos, energia renovável e métodos de irrigação.”
Desde o relatório da ONU de 2010, a organização já vinha observando os impactos gritantes do consumo de alimento de origem animal no meio-ambiente e saúde humana, mas recentemente, o relatório datado de maio 2016, agora sugere medidas ainda mais “extremas” para diminuir o consumo de derivados animais, tentando evitar assim um cataclisma ambiental sem precedentes.. 
De fato, a organização recomenda agora a criação de impostos específicos para produtores e vendedores de carne, aumentando assim o preço do produto e desincentivando os consumidores a comprar.
Fonte: JornalQ
(em, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br )


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