terça-feira, 18 de julho de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Anteontem citei um artigo de Cintra Torres que, lido com atenção, deixa antever uma pista a partir da qual podemos perceber como é que a partidocracia em que vivemos assenta em estruturas oligárquicas. 
Mas esse é um dado que podemos extrair do conteúdo da peça que, no seu todo, é uma autêntica delícia. 
A começar pela humildade revelada em dar o seu próprio nome para exemplificar a pequenez das elites portuguesas o que justificaria a normalidade e a facilidade com que os seus intérpretes se encontrariam, mesmo de áreas diferentes como, na situação em apreço, é o caso dos homens e das mulheres do mundo do jornalismo e da política; ao que se junta a inclusão, enquanto comentador, no grupo dos homens que escrevem na imprensa, como em primeiríssimo lugar os jornalistas, os quais, precisamente por causa do facto anterior, a proximidade gerada pelos cruzamentos entre um escol numericamente reduzido, não têm como fugir à incapacidade de relatarem certos acontecimentos e investigarem determinadas pessoas. 
Isto a partir do caso de laços familiares entre uma série de profissionais da SIC e dirigentes do PS, acabando então a pérola a generalizar não ser preciso falar de cabalas na imprensa para entendermos o alinhamento que, a seu ver, aquela estação televisiva fez com a defesa dos arguidos no chamado caso Casa Pia. E para que não faltasse o argumento de autoridade, conclui com uma citação de Durkheim a explicar o que é um facto social, depois de, por essa forma, nos ter feito perceber a importância do número nos grupos humanos e rematando a tese central do artigo e que lhe dá o título, com a frase de um sociólogo alemão, “a imprensa é livre, mas os jornalistas não.” 
Damos de barato o contexto original da afirmação; seja como for, a mesma é usada para definir que a possibilidade de um trabalho de jornalismo livre varia de peça para peça dado precisamente o referido núcleo reduzido das elites com a proximidade que isso provoca entre os seus membros. 

Santa ingenuidade a minha que pensava que o ideal de um jornalismo livre e independente começaria no pressuposto que tudo e todos podem ser investigados, obviamente, sem que tal se faça na violação das leis ou das regras básicas do respeito pela privacidade de cada um. E se alguém não está em condições para levar a efeito um determinado trabalho jornalístico, não será do mais elementar bom senso atribuir a tarefa a outra pessoa? 
Bem, se não for apenas formalmente, isto é, a existência de uma liberdade de imprensa consagrada em leis que para nada servem e que não são respeitadas por quem quer que seja, de tal forma que os jornalistas, em termos de facto, se vejam coagidos e coarctados na sua autonomia para escreverem livremente os seus textos, fora disso dificilmente consigo almejar como é que uma imprensa pode ser livre se os jornalistas não forem. De qualquer forma admito que aconteça e que tão só por ignorância eu ainda não saiba que os jornais já se fazem sem o elemento humano. 

Enfim, mas linda, linda, linda é a inocência de quem escreve assim: “(…) A tese de doutoramento em 1995 de Pedro Tavares de Almeida na FSCH-UL (que ainda não li) quantifica e analisa esta endogamia e autodefesa da élite política na primeira Regeneração, na segunda metade do século XIX. (…)” (1) 

E depois digam lá como é que Portugal pode deixar a cauda da Europa. Com elites destas… 

A tragédia é que são estes os fazedores de opinião e assim se descartam as perguntas mais incómodas mas, simultaneamente, mais pertinentes. 
Existem ou não grupos que têm a capacidade para impor notícias e outros textos ou peças na comunicação social? 

É aqui que se pode ver se a imprensa e os jornalistas são ou não livres o que, em Portugal… 

De outra forma como explicar o tratamento que aqueles têm dado à recuperação de Kadhafi e às ténues aberturas do regime iraniano? 
E como é que ninguém quer ver as relações com a guerra ao terrorismo é que eu cá estou. 
Em contrapartida, as bombas e os bombistas suicidas que matam em Bagdad são actos de resistência do povo iraquiano. 



Hoje os alunos fizeram fichas e exercícios com os números dados e já estão a fazer um uso regular das somas. 



Então o ministério da justiça não tem “contratados” que ultrapassam todos os prazos e regras que a legislação do trabalho enquadra, a quem reteve dinheiros para a segurança social que nunca chegaram ao seu destino, tendo permanecido nos cofres da entidade empregadora? 
Onde será o fundo em que os portugueses irão bater? 



E o dia de hoje, cheio de Sol, com o verde dos campos tão viçoso a realçar um azul dos céus a que apetecia encostar o rosto. 


 Alhos Vedros 
  28/01/2004 


NOTA 

(1) Cintra Torres, Eduardo, A IMPRENSA É LIVRE, OS JORNALISTAS NÃO, p. 41 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Cintra Torres, Eduardo, A IMPRENSA É LIVRE, OS JORNALISTAS NÃO, In “Público”, nº. 5056, 26/01/2004

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