sábado, 22 de julho de 2017

Rosas Gémeas


Duetos luso-brasileiros
Fotomontagem de Kity Amaral
Texto de Luís Santos




Funciona assim: Primeiro, uma imagem, uma fotomontagem. Depois, um, dois, três dias, semiesquecida, sem fundo de resolução à vista, fica no forno a amadurar. Certo dia ao acordar lá estão as palavras todas, enfileiradas, direitinhas. A própria consciência, as sinapses neuronais, sem a habitual acordada atividade mental, produzem o encadeamento textual. O origâmico sonho.

Aí, vem uma xícara de café, e a memória da imagem, tudo de sabor mineiro, brasileiro. Neste caso, as duas rosas, gémeas, numa bela mandala rendilhada, são bem símbolo de amizade, de fraternidade, de irmandade. Rosas, cor de rosa, lado feminino, lado lunar, a própria poesia, o amor. Uma cristianice presença. Ou uma rosa no centro da cruz que desabrocha em redenção, sofrimento, e se transmuta em cultivada alegria.

No meio da cruz floresce uma rosa de braços abertos, o peito(o coração) ao deus dará, um fraterno amor ao próximo, sem tempo e sem espaço, e-terno. A origem são os toucados de pássaros egípcios, a adoração do sol, os enormes túmulos piramidais, os caminhos verticais e a libertação dos escravos. O monte Sinai e as tábuas da lei. Do povo eleito à força do amor. O sol transformado em Deus.

Hoje aqui estamos e o que se vê foi coisa que nasceu lá muito atrás que é simultaneamente mais adiante, muitos anos depois depois de 1822. O século vinte e dois, belo horizonte, sabor mineiro da xícara de café. Os livros ficcionais das nossas estórias infantis fazem-se acompanhar de lindos desejos, mais os seus violinos que lhe dão um sinfónico fundo musical, quase meditativo, com as flautas, as arpas, as trombetas.

O mundo acordou ao som da música das esferas, de cânticos celestiais. Lá se vê a rosa que floresceu na cruz e menino jesus, criança outra vez. As rosas que do manto caem e se transformam em pão, milagre são. A marinha já não é o que era, mas a língua ainda é uma mistura do africano galaico português. E nós postados nos cotovelos, nos toldam românticos cabelos e levamos em “olhar esfíngico e fatal, o Ocidente, futuro do passado”.

Alhos Vedros, Mestre de Avis, 22 de Julho


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