quinta-feira, 30 de julho de 2015

terça-feira, 28 de julho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Adulto que a disciplina não tenha aprendido em pequenino, apenas reconhecerá a imposição.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (142)


UM PECADO APENAS
Caminha o velho por entre álamos
E pensa
Que a vida lhe deu como recompensa
Sensuais desejos
Milhares beijos
Alcovas de cetim
Mulheres belas
Caricias de donzelas
Arfar de peitos
Encontros satisfeitos

Quanta embriaguês
Paixões voluptuosas
Ardentes formas
Assassinaram férvidos
Desejos
E ele ali entre arvores
Silentes
Clamando entre lagrimas
Tão somente
O ultimo beijo

Entre as ramagens
Das copas das arvores outonais
Um raio de luz beijou-lhe a fronte
Borrifando de brilho olhos embaçados

Arrependeu-se de todos os pecados
Menos um
Por não ter amado mais


Copy Jorge A. G. Lemos - Sombras e Fragmentos

domingo, 26 de julho de 2015

 
MIRADOURO 26 / 2015
 
(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)
 
 
 
VONTADE
 
 
Quando
de súbito
 surge um rubor
espontânea manifestação
de exaltação
que por dentro se acende
de causas indeterminadas
é-nos indispensável
pois que
garante por si mesmo
que estamos vivos e
ansiamos.
Porque
nessa exaltação
que é sempre um começo
que
umas vezes
se agiganta
e outras
esmorece
se tempera
e eclode
o que chamamos  
vontade.
Vontade de
vontade para
vontade por
sei lá…
 
Cada novo ciclo
que surge
e começa
anuncia-se energia
a querer ser
vontade
silenciar gritos de fora
ouvir a voz de dentro
 magma do que somos
que envolve e alimenta
a genuína crença
da possível felicidade
sem que fado algum
a vença.
 
Vontade.
 
 
 
Manuel João Croca
 
 
 
 


Foto de Joana Croca

sábado, 25 de julho de 2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015

SILÊNCIO

A reafirmação do ocaso
sucessivo ao decorrido. Tempos
eleitos em esquecimentos. Torpor
                                           e formato.

A recondução do corpo ao silêncio
originário. O primeiro sinal de vida
escrito no todo universal.

             A solidão se completa
                em esquecimento
                     e silêncio.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 21 de julho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O SÉRIO FORA DA ESCOLA

Um país que não invista a sério na educação condena-se, a prazo, a permanecer na periferia do desenvolvimento. Olhando a História, pouca margem nos resta para deixarmos de considerar esta ideia um axioma. Com efeito, todos os estados que na actualidade estão no topo, já há muitas e muitas gerações que fizeram da escola um veículo de formação das populações, generalizando, progressivamente, à maior malha possível o acesso à escolaridade básica, ao mesmo tempo que procuraram criar universidades com corpos de docentes e trabalhos de excelência. 
Isto deveria integrar o discurso comum entre nós mas, infelizmente, tal não acontece e é isso que explica que sem qualquer incómodo, tanto políticos como os técnicos implicados possam ter andado, nos últimos trinta anos, a brincar com reformas e reformulações cujo resultado se visualiza no facto dos nossos alunos revelarem os mais altos níveis de iliteracia na União Europeia. Entre esses nossos parceiros, apresentamos as piores performances ao nível da aprendizagem da língua materna e das matemáticas e ainda da Física e das ciências em geral. 
Sob pena de caminharmos para uma sociedade de pobreza, é imperioso que os portugueses alterem esta realidade. É este o nosso primeiro grande desafio para as primeiras décadas do século vinte e um.

O que é investir no ensino? Em termos genéricos, é claro, é muito simples. É propiciar que os discentes acedam a conhecimentos e competências que lhes permitam, se for esse o seu desejo, prosseguir os estudos em qualquer área ou, em alternativa, entrarem para o mercado de trabalho com todas as bases necessárias para que possam ser eficientes e produtivos e capazes de atingirem os mais altos graus de produtividade, mais uma vez, seja qual for o campo em que procurem aplicar-se. 
Mas é claro que o ensino é a melhor oportunidade que temos para procedermos à transmissão de valores e comportamentos que fazem os povos civilizados. Neste sentido, a resposta à pergunta anterior também passa por uma escola em que os alunos, para além dos objectivos didácticos, propriamente ditos, ali experimentem e aprendam a ser cidadãos de pleno direito. 

Como tudo isto se materializa é tema para outra ocasião. 

Antes de mais importa compreender que a escola relativista e facilitista – permissiva quanto aos comportamentos e pouco exigente no referente à aprendizagem – que temos não presta. O que ela conseguiu fala por si. 
Sem embargo, devemos ter presente que ela partiu de dois pressupostos falaciosos. 
Ao confundir a validade e o domínio de aplicação da Pedagogia com o extravasamento das suas competências para lá da sua realidade de corpo metodológico e tecnológico para melhor transmitir conhecimento e ao conferir maior importância às manifestações ideológicas que em ela veem, preferencialmente, uma espécie de filosofia do acto de ensinar, com esse engano como ponto de partida, os responsáveis pelo sistema vigente acabaram embrulhados em estéreis discussões sobre a possibilidade de ensinar e a liberdade de querer aprender e, com isso, de espantar seria se a mediocridade fosse ultrapassada. 
A outra falácia é o relativismo cultural que não faz qualquer sentido em termos gnosiológicos e, no concreto, só serve para criarmos falsos argumentos que desculpabilizam o mal. 
Academicamente remonta à tentativa de Bergson (1) de aplicar a teoria da relatividade de Einstein à compreensão dos fenómenos culturais. É conhecida a deficiente interpretação que o filósofo fez do que o físico escreveu. (2) Por outro lado, sabemos que o extravasamento para a realidade multi-cultural do planeta não tem qualquer razão de ser, muito particularmente no que concerne à relativização dos valores. As diferencialidades culturais da nossa espécie advêm das diversas adaptações a ecossistemas e equilíbrios ambientais muito variados. Assim, é tão irrelevante falar da igual importância das culturas humanas como seria pernicioso defender que umas são mais importantes que outras. O mesmo acontece com os valores que derivam justamente da multiplicação das experiências culturais. Mas há alguns que são universais, isto é, passíveis de serem apreendidos por todo e qualquer indivíduo e nada impede que não possamos preferir alguns em relação a outros. Isto não determina quaisquer imposições, mas pode muito bem requerer o reconhecimento, o que não é de somenos. 
Além disto, os arautos desta maneira de ver o mundo deveriam estranhar a companhia. Esse foi o argumento de Goering em Nuremberga, quando defendeu que os Aliados não tinham autoridade moral para o julgar; também essas sociedades tinham os seus crimes. Levado ao limite é a isto que nos conduz, pois deixamos de dispor de qualquer fundamento para afirmar as premissas de um julgamento da maldade. 
Ora acontece que foi com base nestas ideias que se criou uma mentalidade dominante que aceita que a escola deve atender às especificidades dos que a frequentam e agir em conformidade o que acabou por se traduzir na indecisão e no não ensino de massas. 

Se queremos investir a sério na educação, em primeiro lugar, deveremos por fim a este caminho enganador. 

Este é um resumo das teses que tenho defendido em artigos que já publiquei e em outros que publicarei sobre o ensino em Portugal, escritos em função de um dos âmbitos da actividade da associação de pais. 
Folgo por ver que é essa a perspectiva do editor da Gradiva. 


Não sei se adiante não voltarei a debruçar-me sobre algumas das ideias que expressou numa entrevista que deu ao “Notícias Magazine”. (3) 



Na sala da Matilde é que a avaliar pelas suas palavras, as coisas nada se parecem com isso. Ao contrário, por ali permanece o bom senso e a boa fé. 

Ela contou que a Professora costuma observar os meninos durante o intervalo o que naturalmente contribui para um recreio divertido mas dentro do razoável. 

É a sabedoria da experiência, parece-me. 

Segundo a Luísa, ainda há meninos e meninas que choram por ficarem na escola. 

Talvez por isso a aula ainda continue a ser ocupada com pinturas e desenhos. 
Há que dar tempo para as ambientações. 



E eu vejo-me forçado a concordar com o ponto de vista do primeiro-ministro sobre o problema do Iraque. 
Não podemos subalternizar o papel das Nações Unidas, mas também não podemos permitir que a partir dela se crie a inoperância. 
Importa pois continuar a ocupação militar do Iraque para que o país possa reconstituir-se o mais rapidamente possível e progressivamente criar as condições para uma nova administração e governo próprios. 

Do sucesso de um Iraque livre depende, em grande parte, a paz mundial. 



Bem, mas agora vou-me despedir do calor da noite com um cigarro de olhar as estrelas. 
Depois lerei antes de me deitar. 

Alhos Vedros 
  24/09/2003 


NOTAS 

(1) Russel, Bertrand, HISTÓRIA DA FILOSOFIA OCIDENTAL, Vol. II, pp 282 e ss 
(2) Sokal, Alan e Bricmont, Jean, IMPOSTURAS INTECTUAIS, pp 177 e ss 
(3) Valente, Guilherme, TEMOS UMA ESCOLA QUE MENTE, pp 47 e ss 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Russel, Bertrand, HISTÓRIA DA FILOSOFIA OCIDENTAL, Vol. II, Tradução do Professor Dr. Vieira de Almeida, Círculo dos Leitores, Lisboa, 1977 
Sokal, Alan e Bricmont, Jean, IMPOSTURAS INTELECTUAIS, Prefácio à Edição portuguesa pelos Autores, Tradução de Nuno Crato e Carlos Veloso, Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 1999 
Valente, Guilherme, TEMOS UMA ESCOLA QUE MENTE, Notícias Magazine de 21/09/2003, In “Diário de Notícias”, nº. 49122, de 21/03/2003

segunda-feira, 20 de julho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL ... (141)


À Rússia, aos Asnos e aos Outros, Chagall, 1912
Óleo sobre Tela, 156x122 cm


 Quem não é tocado pelos poemas pintados de Chagall, nunca foi criança.


António Tapadinhas

domingo, 19 de julho de 2015



MIRADOURO 25 / 2015

(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)


Alternância ou Alternativa


Parece cada vez mais evidente que o que está em causa na Europa é muito mais do que a eventual saída da Grécia da União Europeia ou do Euro, da mesma forma que por cá as perdas são muito maiores do que os direitos, regalias e exclusão social traduzidos na emigração em massa e no empobrecimento da esmagadora maioria dos portugueses.
Não, o que está verdadeiramente em causa em toda a Europa é a sobrevivência da própria Democracia e o seu exercício. Depois desta ofensiva continuada partiram-se os últimos cacos que ainda restavam da confiança nas Instituições.
Ninguém mais acredita nas Instituições – quer se chamem governo, presidente da república, assembleia da república, união europeia, … - ou nos “políticos” (nunca os mandantes políticos em exercício mentiram tanto e tão despudorada e impunemente) e daí deriva o alheamento cada vez maior dos cidadãos pelo chamado “processo democrático” e o seu funcionamento. As soberanias nacionais existem cada vez mais e tão só no papel que não na capacidade de decidir dos destinos dos povos e países. A angústia das pessoas situa-se, cada vez mais, não em torno da escolha de em quem acreditam antes em que será menos mau.
A situação é muito grave e perigosa e pensar-se que o retrocesso chegou ao fim é uma patranha em que não se deve acreditar. Apesar de nos últimos anos, ainda que a níveis e ritmos diferentes de país para país, o retrocesso civilizacional equivaler a várias décadas, é possível retroceder ainda mais e consequentemente ficarmos pior, da mesma forma que é possível travar a ofensiva e recuperar. Tudo dependerá da forma como exercermos a cidadania, da disponibilidade para missões e compromissos, das escolhas que fizermos e, em suma, da história que formos capazes de escrever.
Precisam-se novos intérpretes.
Intérpretes que sejam intelectualmente honestos e com sentido de estado, com espírito de missão que não satisfação de ganância e interesses, com capacidade de diagnosticar correctamente a origem e extensão do mal, definir terapias apropriadas e capacidade concretizadora para as realizar.
Precisamos de intérpretes credíveis.  
Precisamos de Estadistas.
Sabemos que tantos anos de corrupção instituída e generalizada fez rarear esses perfis mas, ainda existem por aí alguns. Em nome da possibilidade de um melhor futuro seria indispensável que estivessem dispostos a avançar e que tivéssemos o discernimento, independência e coragem de os escolher e apoiar assumindo cada um o papel que lhe cabe na construção dessa transformação que se chama alternativa.

Manuel João Croca   


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Etnografar a Arte de Rua (XI) Graffitar a Literatura





















Graffitis fotografados por Luís Souta, 2015.
Rua das Rosas, Bairro das Portelas, Cascais.


Este é um dos cinco novos mural paintings que a vila de Cascais “adquiriu” no âmbito da 2ª edição do “Muraliza - Festival de Arte Mural”, que aí decorreu entre 29 de Junho e 6 de Julho do presente ano. Uma interessante iniciativa que procura «reforçar o estatuto de Cascais como berço de todas as expressões artísticas de rua em Portugal».

O autor deste graffiti urbano é o italiano Millo. Pintou a fachada lateral de um conjunto de quatro lotes – casas sociais, da tipologia espoliadora de varandas. Essa linha de prédios, de três andares, fica situado muito perto do bairro onde resido. Por isso, tive a sorte de o ver, durante uns dias, concentrado no seu labor artístico: de trincha na mão, em cima de uma grua, dando corpo a esta ‘criança’ montada no seu cavalinho de madeira azul e vermelho, em primeiro plano, e, em fundo, uma moderna cidade, clonada de edifícios-caixotes, a preto e branco.

Ali passei várias vezes para o fotografar. A arte de rua tem esta peculiaridade: permite, a qualquer um, assistir, in loco, ao decorrer do processo criativo. Tal não é possível quando o pintor trabalha no seu ateliê, resguardado dos olhares do público que só conhecerá o produto, depois de acabado, quando exposto. Eduarda Dionísio no seu romance As histórias não têm fim (Cotovia, 1997, pp. 194 e 195) mostra-nos como esse privilégio fica reservado àqueles com quem o artista partilha a intimidade:

«Quando Helena chega a casa, o pintor está precisamente a assinar o último quadro, uma tela enorme, a que falta para encher a parede do fundo da exposição que se inaugura dali a dois dias e que está quase montada, um quadro que portanto não figurará no catálogo. (…)

Depois de assinar o quadro, ele retoca ainda um canto, passa laca de garança por cima dum vermelhão, em transparência. Já podem vir buscar o quadro quando quiserem. É só ela telefonar. (…)

Acabei o quadro, diz. Podes telefonar para a galeria quando quiseres.

Abraçam-se e beijam-se como há muito tempo não faziam. Riem os dois pouco mais ou menos como antigamente.

Ele diz
posso fazer-te o retrato?

E naquela mesma tarde pôs outra tela no cavalete, nem grande nem pequena.»

Eduarda Dionísio deve ter tido essa dádiva de seu pai, o pintor (e também escritor e professor) Mário Dionísio (1916-1993), um dos principais teorizadores do neo-realismo nas artes plásticas, que pel’ A Paleta e o Mundo viria a receber, em 1964, o Grande Prémio de Ensaio da Sociedade Portuguesa de Escritores. Esta obra tem sido dissecada em múltiplas sessões de “leitura comentada” que se vêm realizando na “Casa da Achada - Centro Mário Dionísio”, em Lisboa (Mouraria) http://www.centromariodionisio.org/ Este dinâmico Centro, de cultura e animação, é fruto do amor, gratidão e enorme admiração da filha pelo seu pai. Filha que herdou o património artístico e cívico de uma figura ímpar do século XX português, e ao dar-lhe continuidade, ampliou-o.

Luís Souta


quarta-feira, 15 de julho de 2015



O Largo da Graça
Foto de Lucas Rosa

O Mundo na Era da Globalização

As tecnologias da informação estão a mudar o mundo. A conjunção da informática com as telecomunicações pronunciam uma nova época (...) Nos próximos anos, novas e mais sofisticadas tecnologias aproximarão cada vez mais as sociedades mundiais de um "mundo sem trabalhadores". Redefinir a falta de trabalho deverá ser a questão social mais premente deste século.

Enquanto para alguns um mundo sem trabalho se traduzirá, sobretudo, em liberdade e tempo livre, para outros evoca a ideia de um futuro sombrio com desemprego e pobreza generalizada.

Novas instituições estão a ser criadas pelas pessoas para suprir necessidades que não estão a ser atendidas pelo mercado. E isto se verifica por todo o mundo.

"No séc. XVIII, a máquina a vapor provocando a revolução industrial, mudou a face do mundo (...) No entanto, essa máquina apenas substituía o músculo. Com a vocação de substituir o cérebro, o computador está a provocar, sob os nossos olhos, mutações ainda mais formidáveis e inéditas." (*)

Luís Santos, O Largo da Graça.


(*) Ignacio Ramonet, A Guerra dos Mundos. Porto: Campo das Letras, 2002: 91)


terça-feira, 14 de julho de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A DISCIPLINA É NECESSÁRIA 


Sabeis vós que o pequeno Zé Maria passou a tarde de Sábado, entre nós, para o que nos vimos na necessidade de montar a cama de campanha que tanto nos serviu para a Margarida e a Matilde; o bebé precisaria de fazer a sesta. 

Quem gostou da ideia foi esta minha filha mais nova. 
Desde a noite de Domingo que, para lhe dar o beijinho de quando a seguir os pais se deitam, vejo obrigado a debruçar-me numa espécie de gaiola sem tecto. 


Dormem os amores mais novos e a casa deixada às notícias, na TSF. 



Terminou aquele que foi o Verão mais quente dos últimos vinte e cinco anos. 
Foi, em termos naturais, a persistência de elevadas temperaturas que por diversas ocasiões ultrapassaram os quarenta e poucos graus em grande parte do território, desde o fim da Primavera até ao momento. 
E a este forte e longo período seco estival juntaram-se os fogos com dimensões nunca antes vistas e para que os ânimos, também eles, ainda ficassem mais acalorados, esteve ao rubro o processo que se desenvolve em torno da investigação sobre a eventualidade de crimes no domínio do abuso e exploração de menores. 

Foi a estranha e dantesca estação deste reino do homo maniatábilis que se normalizou e instalou no aparelho de estado nos últimos anos. Um território seco a ferro e fogo, enquanto nos media se assistia ao achincalho de magistrados e da magistratura, ao mesmo tempo que surgiam as mais variadas pressões para alterar leis e regras processuais, caricatamente elaboradas e aprovadas com o beneplácito de muitos desses detractores. 

O rasto deste Verão é um país em recessão económica e sem projectos de futuro, onde as apostas que se impunham na educação e nas reformas da administração pública e na fiscalidade estão a deixar que se acumulem gerações mal formadas tanto para o saber como para o trabalho, bem como aumenta o peso da máquina do estado sobre a sociedade. 


O poder político, esse esteve em peso na final da Taça da UEFA, em Sevilha que o Futebol Clube do Porto venceu. Presidente da República, Primeiro-Ministro, Ministros e Deputados, até a Primeira Dama esteve presente, todos juntos a comemorar, pois então, radiantes a cumprimentar nada mais nada menos que Pinto da Costa, símbolo deste Portugal no seu melhor. 



Depois há destas coisas. 
Segundo a capa do “Público” de hoje, noventa e cinco por cento dos candidatos ao superior entraram. As vagas que faltam, sobram relativamente ao número de candidatos para a segunda parte das colocações. 
No país com os maiores níveis de iliteracia e as piores performances no domínio científico, entre os parceiros da União Europeia, conseguimos a proeza de criarmos uma espécie ensino superior de massas. 


Faz-me recordar aquelas atoardas da época revolucionária, quando era possível escutar – era voz corrente, em alguns meios – que na Rússia – assim os mais velhos designavam a União Soviética nesse tempo de discussões políticas – até os pastores tinham um curso. 



Na aula desta manhã, os alunos receberam a visita do Senhor Padre Carlos, segundo a Matilde, para distribuir uns papeis sobre a catequese. 

De resto, os trabalhos foram preenchidos com desenhos, pinturas e recortes. 

Como houveram meninos que fizeram do chão o depósito das aparas, foram obrigados a limparem a sala no fim dos trabalhos. Por isso saíram com uns minutos de atraso. 


A Matoldas lá vinha sorridente, toda satisfeita. À semelhança da irmã mais velha, também o pardalito frequentará aquela hora semanal de iniciação – será que se pode dizer assim? – à formação católica. É essa a vontade da mãe e foi esse o acordo que assinei para poder casar com ela. 
Não me parece que haja algo de errado nisso. O cristianismo encerra em si uma mensagem universal de paz e tolerância entre os homens. 

Coisas de que a Humanidade não se pode demitir. 



Agora silêncio, vamos escutar a noite 
que os doces sonhos esperam por nós. 


Alhos Vedros 
  23/09/2003

segunda-feira, 13 de julho de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (140)

Costureira com Candeeiro, Millet, 1872
Óleo sobre Tela, 100,7x81,9 cm

Amor

o teu rosto à minha espera, o teu rosto 
a sorrir para os meus olhos, existe um 
trovão de céu sobre a montanha. 

as tuas mãos são finas e claras, vês-me 
sorrir, brisas incendeiam o mundo, 
respiro a luz sobre as folhas da olaia. 

entro nos corredores de outubro para 
encontrar um abraço nos teus olhos, 
este dia será sempre hoje na memória. 

hoje compreendo os rios. a idade das 
rochas diz-me palavras profundas, 
hoje tenho o teu rosto dentro de mim. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão

domingo, 12 de julho de 2015


MIRADOURO 24/2015
(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)

(…)
Voando de través o continente pousei sentindo no peito um apelo urgente. A filigrana táctil do dedilhar dizia-me para navegar o verbo amar.
(…)
Há muito tempo que não chegavas a mim assim toda paz, toda luz, tanto brilho. Suavidade sinuosa, insinuante. Chegando e querendo chegar, desaguando como quem se partilha. Sem diques, sem pontes. Mar largo, profundo, sereno, tranquilo.
A contraluz recorta a silhueta da montanha, metáfora do caminho que se faz subindo, arfando cansaço.
Descobrir, conhecer, saber, … a sabedoria não cabe em manuais.

Manuel João Croca


Foto de Joana Croca

sexta-feira, 10 de julho de 2015

PARTIDO ALEMÃO (AfD ) NAS PEGADAS DA “FRONT NATIONAL” FRANCESA?


O Despertar dos Nacionalismos como Resposta à Irresponsabilidade política e económica da União Europeia


António Justo

No Congresso do partido AfD (Alternativa para a Alemanha) realizado em Hessen a 4-5 de Julho, impuseram-se as forças nacional-conservadoras, elegendo como sua presidente Frauke Petry. Deste modo a AfD perdeu o seu fundador Prof. Dr. Bernd Lucke que há anos atrás tinha profetizado a actual crise da Grécia.

O economista Bernd Lucke, depois de ter sido destituído de chefe demitiu-se do partido. Lucke vê na eleição da nova direcção ( a sua rival Frauke Petry) uma nova orientação que permite o espalhar-se de  ideias latentes islamofóbicas e contra estrangeiros. O presidente deposto alega que a nova presidência assumirá uma orientação antiocidental (USA) e “uma orientação resoluta a favor de uma política externa e de segurança pró-russa”.

Bernd Lucke na sua atitude professoral não era a pessoa mais indicada para estar no topo do partido que reúne em si imensa gente descontente. Bernd Lucke é presidente da Associação “Weckruf 2015” (“Relógio Despertador 2015 ") e pode fundar um novo partido. Nos últimos dias 600 membros já abandonaram o partido AfD que contava com 21.000 filiados.

Apesar da clientela do partido, no dizer dos partidos estabelecidos, constar de uma mistura de “críticos do sistema, nacionalistas, populistas, amigos do movimento Pegida e racistas” não será fácil a Bernd Lucke conseguir a fundação de um novo partido que se afirme.

Com Frauke Petry, o partido tornar-se-á mais radical. Atendendo ao geral descontentamento político em relação aos partidos principais e aos problemas de integração de estrangeiros, à crise do Euro e ao descontentamento de grande parte da população em relação à política americana nas fronteiras com a Rússia, a AfD continuará a ter muitas chances.

Embora a Alemanha não se possa comparar com a França, o potencial de eleitores do estilo da “Front nacional” francesa, aumentará também na Alemanha. Frauke Petry afirma que não seguirá as pegadas da Front nacional.

Os ventos que correm na Europa e no mundo, em reacção ao globalismo e ao modo como a UE se comporta com os seus países membros, dão mais razão a uma retalhação da sociedade como movimento reactivo às centralizações do poder político-económico-ideológico.

Numa democracia, os governos e os parlamentos dependem dos eleitores e estes estão muito descontentes devido a uma política europeia de tecnocratas cada vez mais distante dos cidadãos e mais próxima das elites. O melhor exemplo revelador da situação europeia torna-se palpável no teatro da tragédia grega e no teatro das marionetes de Bruxelas. De um lado o nacionalismo grego e do outro lado os nacionalismos congregados em torno da UE e representados até ao esgotamento.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista


quinta-feira, 9 de julho de 2015


Palestra efectuada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 29 de Junho de 2015,
no âmbito das Comemorações do 6.º Centenário da estadia
d’el-Rei Dom João I em Alhos Vedros.

COMUNICAÇÃO

Esta comunicação é uma síntese do power-point que acabámos de analisar. Aquando da preparação de ambos, dei preponderância ao texto do cronista. Estruturei a comunicação em 7 pontos, que enunciarei ao longo da leitura. Como já sabeis, o tema que me foi proposto é

Ceuta, 1415 – o Conselho Régio de Alhos Vedros,
o último antes da partida de Lisboa.”

1. De acordo com José Adriano de Freitas Carvalho, no seu escritoOs Fundamentos Poéticos do Documento. A Propósito de uma Página Exemplar do Leal Conselheiro”, incluído em “Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos”, publicado em 2004 pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, p. 385, no respeitante ao Conselho Régio efectuado naquele povoado ribeirinho é dito que consistiu em «uma reunião breve, e com reduzido número de conselheiros (…), sob um alpendre, para dar conta a D. João I do resultado da anterior, em que o rei (…) discorre sobre os empachos levantados
Contudo, tal Conselho Régio veio a revelar-se decisivo, no tocante à partida da frota para a conquista de Ceuta.

2. Quanto à relevância do Conselho Régio de Alhos Vedros, comparativamente aos Conselhos anteriormente levados a cabo, é minha intenção deixar bem clarificadas duas considerações: primeira, ausência de chauvinismo da minha parte, que seria desprovido de total razão de ser na sociedade actual, que se pretende cada vez mais evoluída, corporizada numa realidade multi e pluricultural; segunda, a minha convicção de que o sucesso ou o insucesso na implementação de um projecto, seja ele de que natureza for, advém, indiscutivelmente, da capacidade de liderança (ou ausência dela), mas igualmente do trabalho em equipa, numa imprescindível comunhão de vontades (ou não) que, ao longo do tempo, determinará os consequentes resultados (êxitos ou fracassos). Lendo o relato do cronista, no respeitante ao planeamento da empresa bélica que visava Ceuta, constatamos que, da parte de Dom João I, houve ajuizada liderança, alongada maturação, trabalho estruturado «ca mais de três anos havia, que ele tinha este feito começado».
Nesta comunicação, incorreria numa gravíssima omissão, se não referisse que o Conselho Régio de Alhos Vedros adveio da conjugação de dois factores: um, acidental, isto é, a urgência de garantir a segurança do Rei num local preservado da peste; o outro, a necessidade de ser definido o rumo a dar à empresa norteafricana, que o inesperado falecimento da Rainha embargara. Tratou-se, pois, de mais um Conselho, na continuidade dos anteriores.

3. Previamente informado da irresolução ocorrida no Conselho Régio da véspera, que tivera lugar no Restelo, o Monarca ouviu apoiantes e oponentes da realização da empresa que há anos trazia o reino em frenesim. 
Analisando a Crónica da Tomada de Ceuta, de Gomes Eanes de Zurara, os argumentos a favor eram «que todavia el-rei devia partir, como primeiramente tinha ordenado, porque deziam que tamanhas despesas como já eram feitas, e tais provimentos com tantos trabalhos remediados e buscados, nom deviam assim de passar em vão. Quanto mais, pois aquilo fora movido principalmente por serviço de Deus, se nom devia leixar d’acabar por nenhuma cousa, nem havia hi rezom per que se justamente leixasse de fazer, ca posto que assim a Rainha falecesse, sua morte a tal feito nom devia fazer empacho. Ca a Rainha nom era mais que uma mulher, cuja morte nom trazia outra torva pera seu propósito, somente a tristeza que eles por sua causa filhavam. (…) Quanto mais que a fama deste feito era tão devulgada per muitas partes do mundo, que todos pensavam que tamanho movimento nom podia parar sem cometimento dalgum grande feito. Pelo fim do qual estavam cada dia em esperança de ouvir certo recado. A qual cousa seria mui vergonhosa assim pera el-rei como pera todo o reino, quando soubessem que por semelhante azo o leixavam de poer em fim
Avançando na leitura da narrativa do cronista, aqueles que eram contrários à abalada da frota «acordavam que todavia el-rei por nenhum caso devia partir. Por certo, deziam eles, se vós dezeis que por isto ser serviço de Deus o devemos principalmente de seguir, bem se mostra que Lhe nom praz de semelhante movimento. Por quanto, ante os nossos olhos traz tão manifestos sinais, per que de rezom devemos creer que o nosso movimento é comtrayro de Sua vontade! Que cousa tão maravilhosa pensais, que é o dano que esta pestenemça fez e faz cada dia em tanta boa gente, como per sua causa faleceu e falece? E nom é dúvida, que depois que forem todos dentro nos navios, que se nom acenda muito mais, ca o ajuntamento a fará muito mais acender. E o remédio proveitoso pera ela seria de se espalhar agora esta gente. E é certo que nom poderia tamanho fogo estar muito que se nom apagasse. E se nós agora partíssemos, pode ser que assim como morreu a Rainha, morrerão outras pessoas tais, cujo dano trazerá muito grande perda. Devemos ainda muito recear tamanho dano, como recebemos na morte daquela senhora, porque somente as suas orações eram abastamtes pera nos livrarem de quaisquer perigos. Ca bem mostrou Nosso Senhor Deus sinais acerca da sua morte, per que muito devemos sentir a perda de seu falecimento, do qual nom há nenhum, posto que de pequena condiçom seja, que nom tenha mui grande sentido. Certamente nós lhe mostraríamos sinal de pouco amor, perdendo em tão breve tempo memória de sua morte, nom tomando sequer algum espaço per que o mundo conhecesse o sentido que tínhamos de sua morte. Mas logo assim tirados dos choros de sua sepultura fazermos partida, nom seria bem. E que ainda quiséssemos leixar estas cousas, temos outro mui grande empacho, que é muito pera considerar. E isto é que por azo da doença da Rainha se desaviaram muitas cousas, pera corregimento das quais nom há mester menos de um mês. Pois nós somos agora casi em fim de julho, e quando um mês passasse, seríamos em fim d’agosto, que é já começo do inverno, em que se nom deve começar semelhante feito. É assim que, por todas estas rezões, se deve por agora escusar a eixecuçom desta cousa 
 
4. Uma vez escutados os pareceres divergentes sustentados por cada uma das partes beligerantes, o Rei revelou ser detentor de apurada eloquência e de incontestável sagacidade diplomática, aptidões que lhe permitiram aproveitar, de forma exímia, os argumentos dos opositores, fazendo-os reverter a favor da concretização da empresa, como se pode inferir das seguintes transcrições:
«(…) el-rei ouvidas assim aquelas rezões, descobriu sua cabeça que tinha coberta com seu doo, e disse. Muito me pesa porque em tão boas pessoas é achado nenhum falecimento de fraqueza em semelhante caso. Ca certamente eu cuidara, que posto que eu, por causa de minha grande tristeza, ou por outro algum azo quisera ficar, que eles me constrangeram pera ele, conselhando-me que todavia seguisse minha viagem. Porém, considerando acerca de todollos empachos que eles puseram em minha ida, cuja força principalmente está em estes acontecimentos que se ora seguiram, contando pelo mais forte o falecimento da Rainha que Deus haja. Creendo que o aparecimento destes sinais é mui grande amoestação de nossa ficada, o que eu todo entendo pelo contrayro, porque notório é, que pera prosseguimento de tamanho feito, nom cumpre mais que irmos arrependidos e purgados de nossos pecados, emclinamdo ao Senhor Deus nossas almas, tornando-nos a Ele de todo coraçom, fazendo penitência dos erros passados que contra Ele cometemos, e demandando-Lhe mui humildosamente que nos livre de nossos inimigos, e que Lhe praza dar glória a Seu nome, exalçando a Sua santa fé, quebrantando e destruindo todollos Seus comtrayros com a Sua própria virtude. (…) Porque necessário é, que Deus use das Suas creaturas como Lhe prouver. (…) Pois que sabemos nós, se Nosso Senhor Deus per estas cousas nos quis provar? (…) Certamente eu creo que todas estas cousas que assim acomteçerom, som mais porque Deus per elas nos mostra a çertidom da vitória que o comtrayro (…) e pera nós isto firmemente creermos, ponhamos ante os nossos olhos as maravilhosas cousas que lhe acomteçerom antes de sua morte, pelas quais certamente sabemos, que a sua alma está em bem-aventurado repouso
                        
5. Mais adiante, o cronista apresenta-nos um esclarecedor arquétipo do exercício da autoridade régia. Não nos esqueçamos que, à época, meados da segunda década do séc. XV, a sociedade portuguesa se achava ainda profundamente alicerçada na matriz medieval. Daí que, na resolução de controvérsias de carácter político, a «última palavra» competia, incontestavelmente, ao Rei.
Pela pena de Zurara, sabe-se que o mesmo sucedeu no Conselho Régio de Alhos Vedros, em virtude da urgência da tomada de uma decisão relativamente a Ceuta. É, então, alicerçado em tal prerrogativa, que Dom João I declara peremptoriamente: «porém por todas estas rezões eu determino com a graça do Senhor Deus de seguir todavia minha temçom por Seu serviço. Ca doutra guisa nom me parece que faria o que devo. (…) Pois que assim é, disse el-rei, toda minha detença será daqui até quarta-feira, e depois siga-me quem puder. E vós, meus filhos, tornai-vos logo à vossa frota, e fazei dar a tudo tal aviamento, que quarta-feira, a Deus prazendo, possamos partir

6. Em face do anteriormente referido, dois detalhes dignos de realce que mencionar, os quais, na minha opinião, conferem ao Conselho Régio de Alhos Vedros um carácter sui generis, porque deliberativo: o primeiro, ter sido nesse povoado da «borda-d’água» que, finalmente, foi tomada a decisão de partir para Ceuta; o segundo, aí se ter definido uma data - 23 de Julho, antevéspera do Dia de Santiago - para abalar de Alhos Vedros e rumar ao Restelo, a fim de aprontar o que carecia ser aprestado para a partida da frota.

7. E, para concluir, tenho de confessar-vos um desejo pessoal… Oxalá eu tenha conseguido dar o meu modesto contributo, para deixar bem gravado na memória individual e na memória colectiva que, na segunda metade do mês de Julho, do ano 1415 da nossa Era, ocorreu em Alhos Vedros um facto assaz marcante para a História Local! Todavia, proclamar bem alto, que tal acontecimento, mesmo «contra possíveis ventos e marés», se encontra, incontestavelmente, arreigado na História Nacional!

                                                                     Muito obrigado!

                       Francisco José Noronha dos Santos


(Não é usada a grafia preconizada pelo actual Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa)