sábado, 11 de abril de 2015

Erva-prata


por Miguel Boieiro

Sei agora que há diferentes plantas com a designação popular de erva-prata. Quando era criança os meus pais advertiam-me com frequência para não misturar no forrejo uma tal erva-prata rasteirinha e de flores brancas. Ela não matava os bichos mas conferia um sabor muito desagradável ao leite e à carne, de tal maneira que os mesmos não se podiam tragar.

Num exame escrito da disciplina de Matérias-Primas do antigo Instituto Comercial de Lisboa, para além do que se encontrava nas respetivas sebentas que presidiam ao estudo, atrevi-me a falar de uma erva que, depois de comida pelas vacas, transmitia ao leite odores e sabores desagradavelmente enjoativos. A professora, que não conhecia tal facto, ficou estupefacta com o à vontade do aluno, mas a ausência do nome científico acabou por colocar um ponto final no assunto. Humildemente acrescento que ainda não detetei a respetiva designação binominal latina e assim, não posso, por ora, caracterizar tal erva-prata com o necessário rigor.

A que desta feita venho abordar é talvez, de todas as ervas-prata, a mais divulgada em Portugal. Dá pelo nome de Paronychia argentea e pertence à família das Caryophyllaceae. Há também quem a conheça por paroníquia, paroninquia-de-clusío, erva-gelada e erva-do-orvalho. Os americanos chamam-lhe “Algerian Tea” o que, desde logo, indicia a sua origem mediterrânica.

Trata-se de uma herbácea perene com brácteas secas que fazem lembrar papel translúcido. Nasce espontaneamente nos terrenos arenosos ou pedregosos expostos às radiações solares e encontra-se com frequência nas clareiras das matas xerófitas, solos incultos, bermas dos caminhos, dunas e areias litorais formando vistosos tapetes. Possui vários caules prostrados de cor avermelhada. As pequenas folhas são opostas, ovais ou ligeiramente lanceoladas com pecíolos curtos. Na floração aglomerada, o que desperta a atenção são as brácteas prateadas, protegendo e quase escondendo o respetivo perianto. Dificilmente se enxergam as minúsculas flores axilares de tons amarelos, com cinco sépalas e cinco pétalas. Elas são hermafroditas, beneficiando da polinização facultada por pequenos insetos.

A Paronychia argentea é bem visível nos “chás” compostos vendidos nas ervanárias visto que, pelo seu aspeto singular, se distingue facilmente das outras espécies.
Considera-se que possui propriedades diuréticas, adstringentes e vulnerárias.
A medicina popular utiliza-a, desde remotas eras, para os problemas dos rins e do fígado, dores abdominais e albuminúria e ainda para tratar transtornos gastrointestinais de cães e gatos.
O Dr. Lyon de Castro aconselhava o infuso de 30 g da planta num litro de água para tomar três vezes por dia, fora das refeições.

Consultei vários tratados estrangeiros de plantas medicinais e não encontrei, em nenhum deles, qualquer referência à erva-prata. Isso faz supor que o seu uso é essencialmente devido à tradição popular que se transmite oralmente através das sucessivas gerações. A corroborar esta ideia temos o interessante livro de recolhas do historiador Domingos Boieiro. Na sua obra “Ervas e Mezinhas – Corpo e Alma – Cadernos da Memória do Alandroal” este meu “primo alentejano” regista o resultado de várias entrevistas feitas a camponeses idosos do seu concelho onde a Paronychia argentea aparece elencada como erva diurética e adstringente. Na página 64 refere-se mesmo que “o chá de erva-prata é excelente para fazer funcionar o aparelho urinário e em banhos serve para diminuir as secreções glandulares e limpar a pele”.

Por fim, devo acrescentar que encontrei também uma menção à erva-prata no pequeno dicionário “Nomes Vulgares de Algumas Infestantes e Respetivo Nome Botânico”, de Fátima Rocha, publicado em 1979 pela Direção Geral de Proteção da Produção Agrícola do Ministério da Agricultura.

6 comentários:

Miguel Boieiro disse...

Muito bem, mas a foto não parece ser a da erva-prata!

luis santos disse...


A escolha da foto é da minha responsabilidade. Tirei-a do banco de imagens do Google. Lá dizia erva-prata, mas talvez que existam várias espécies. Bem, certeza, certeza, não tenho.

Miguel Boieiro disse...

Bom dia Luís!
O ideal é procurar a imagem, usando a designação científica, a qual é composta por dois nomes em latim.

luis santos disse...

Bom Dia Miguel!
Faremos isso.
Obrigado e Abraço.

Vítor Margarido disse...

A erva-prata é rasteira. No motor de busca, " Paronychia argentea Flora-on " há muitas fotos.
Gostei do site. Obrigado.

Carsil disse...

A erva prata é benéfico para quem sofre de gota ácido úrico?